Sobe e desce no jogo político
De dois em dois anos, o cenário político nacional toma quase por completo o espaço nos veículos de mídia. O período eleitoral mobiliza toda a população e um dos instrumentos mais importantes que movimentam as peças desse jogo político são as pesquisas eleitorais. Sejam quantitativas ou qualitativas, as pesquisas são fundamentais para traçar estratégias de campanha e abastecer de informação jornais de todo país. Mas, para os eleitores, as pesquisas de intenção de voto não tem influência alguma na hora de votar.
Durante as eleições, são elaborados dois tipos de pesquisas. As pesquisas qualitativas tentam mensurar itens que auxiliam os candidatos na elaboração da estratégia de campanha. Índices de rejeição e popularidade em determinadas regiões são exemplos de questões que são elucidadas com a pesquisa qualitativa. Assim, as pesquisas podem, por exemplo, definir o candidato de um partido pela popularidade junto aos eleitores. Até a aparência física pode ser modificada dependendo dos que os entrevistados respondem. Já as pesquisas quantitativas têm caráter de informação, simplesmente. São típicas de intenção de voto, que medem a porcentagem que cada candidato receberia se o pleito tivesse ocorrido no dia da entrevista e são essas que aparecem com mais frequência nos noticiários.
Quanto mais se aproxima o dia das eleições, as pesquisas são mais requisitadas. A demanda por elas parte dos veículos de comunicação e, principalmente, dos partidos. Estima-se que um orçamento mais simples de pesquisa, em nível nacional, pode chegar a R$ 200 mil. Em grandes institutos de pesquisa, são recrutados, em média, dois mil agentes de pesquisa devidamente identificados, que percorrem grandes regiões, carregando pranchetas e palm tops.
Para aqueles que não acreditam em pesquisas por que nunca foram entrevistados para alguma delas, aí vai uma explicação: os agentes devem seguir algumas regras durante o trabalho de campo. No instituto Sensus, por exemplo, cada agente de pesquisa tem uma rota. O pesquisador percorre apenas um lado da rua e, a cada cinco casas por que ele passa, ele só pode bater em uma. Há ainda a estratificação, ou seja, o agente entrevista um determinado grupo de pessoas. Por exemplo, se o pesquisador tiver em mãos um questionário voltado para jovens de 16 a 18 anos, ele tem que tem que entrevistar alguém nessa faixa etária. Caso a residência na tiver alguém com esse perfil, ele tem que ir para a próxima casa.
O encarregado de logística José Márcio de Souza, 55 anos, trabalhou por dois anos pelo Sensus, que tem sede em Belo Horizonte. Percorreu por boa parte do país, colhendo dados para as eleições de 2006. Segundo ele, são inúmeras as dificuldades para entrevistar de porta em porta. “Acontece de tudo, até situações cômicas. Trabalhar com pesquisa requer muito jogo de cintura para conseguir entrevistar as pessoas”, conta. O ex-agente de pesquisa ressalta que os questionários são dados prontos e que em hipótese alguma o agente pode influenciar nas respostas dos eleitores. “Passamos por treinamentos rigorosos para fazer esse trabalho, tudo para não forjar nada”, garante.
O sociólogo Eduardo Dias trabalhou para o jornal Estado de Minas durante seis anos. Atuou elaborando questionários e fazendo relatórios. Ele explica que existem técnicas para eliminar questões tendenciosas dos questionários. “Quando se pergunta em qual candidato você votaria se a eleição fosse hoje, não é apresentado ao entrevistado uma lista, pois há tendência da pessoa marcar os primeiros da listagem. Por isso, é dado uma roleta com o nome de todos os candidatos que elimina esse problema”, explica. Segundo ele, muitos sociólogos criticam a forma como as pesquisas são elaboradas no Brasil. “A estratificação por grupos não é bem vista por muitos acadêmicos, mas isso é o que tem dado certo num grande país como o Brasil”, explica.
Bom para os políticos. Para os eleitores, nem tanto
Se para os coordenadores de campanha as pesquisas são valiosos instrumentos, para muitos eleitores elas não têm nenhuma importância. A auxiliar de serviços gerais Denize Brandão, 50 anos, não é influenciada pelas pesquisas que vê na TV. “Eu não vou na onda de pesquisa não, voto no que eu acredito. Tanto que na eleição passada o Lula estava em primeiro nas pesquisas e eu não votei nele”. A estudante Vanessa dos Santos, 17 anos, votará pela primeira vez e tem opinião parecida. “Voto pela minha vontade, o outro candidato pode tá ganhado o quanto for as pesquisas que para mim não importa.” Para a dona de casa Mara Lúcia Almeida, 43 anos, as pesquisas não tem nenhuma influência no eleitorado. “Para mim, a opinião dos outros não influencia terceiros”.
Muitos dizem que não são influenciados, mas acreditam que os outros são. Ricardo Resende, vendedor de 41 anos, acha que muitas pessoas, para não perder o voto, escolhem o candidato que está ganhando nas pesquisas. “Eles não têm consciência política”, diz. Davi Eustáquio Souza, 22 anos, estudante de História da PUC Minas, acha “que as pessoas são influenciadas pelas pesquisas porque elas não tem personalidade", conclui.
Veja abaixo exemplo de questionário do Instituto DataFolha referente a pesquisa resgistrada no TSE sob o Nº. 6617/2010