Se você viu, milhares verão
Mídias alternativas são acessíveis e ajudam a movimentar a economia do bairros de Belo Horizonte.
Paolo Xavier
É barato e, acima de tudo, eficiente. A publicidade de bairro, também conhecida como mídia alternativa nas teorias da publicidade, oferece algumas opções para pequenos empresários que buscam o menor preço para divulgação de produtos e serviços. Para as grandes empresas, o que manda é a possibilidade de alcançar um público específico, localizado. Opções não faltam: faixas, pintura em muros, jornais de bairro... Mas é preciso tomar cuidado. A fixação de faixas e pinturas em locais públicos pode acarretar multa por não se enquadrar no código de posturas de Belo Horizonte.
O Jornal do Bairro (JB), da região Noroeste da capital, tem mais ou menos dez anos. O publisher (dono de veículo de mídia) Delvaci Jr. sempre foi vendedor e, na época, vendia anúncios para a lista telefônica. Com veia empreendedora, se juntou a um colega de trabalho e fundou o Jornal do Bairro, cuja primeira edição circulou no bairro Padre Eustáquio. A sociedade se desfez e, depois de um tempo trabalhando em outros ramos, ele resolveu, junto com a esposa Joseane, reabrir o jornal em 2006, abrangendo os bairros Alípio de Melo, Castelo, Serrano e redondezas.
Em janeiro deste ano, abriu a região 2 do jornal, que engloba os bairros Glória, Coqueiros e São Salvador. No meio do ano, há um projeto de abrir na região dos bairros Ouro Preto e Pampulha; até o fim do ano, ele quer e mais uma região, que ainda não definiu. Cada região possui matérias e anúncios independentes. Para cada uma são oito mil exemplares; portanto, até o final do ano, a meta é distribuir 32 mil exemplares.
O jornal é no formato standard, sendo a capa e última página coloridas e o miolo em preto e branco O valor do anúncio de 9,2 X 5 cm, preto e branco é R$ 50. Na capa em policromia fica em R$ 95 e, na última página, R$ 75. Se o cliente quer mais espaço, podem ser vendidos, por exemplo, dois espaços por R$ 180. A arte do anúncio está incluída no preço e é feita pelo próprio Delvaci.
Os clientes são captados com visitas, por telefone e via e-mail. “A captação é bater pasta mesmo. Minha esposa ajuda muito na venda dos anúncios mandado newsletter, malas diretas. Se estou agendado com um cliente, após a reunião, vou em busca dos empresários ao lado", relata.
Mesmo sendo um jornal voltado para a Regional Noroeste de Belo Horizonte, Delvaci tem clientes da Savassi a Venda Nova e em vários outros lugares. São empresas muitas vezes grandes, que têm interesse em atingir públicos daquela região. A negociação é feita mensalmente, não há pacotes fechados. “É um informativo para a população mesmo. O jornal sendo bem aceito, os empresários vão ter interesse em anunciar no jornal e é aí que eu ganho dinheiro”, conta.
Maurício Pereira, proprietário da Multilimp Lavagem a Seco, divulga a empresa no jornal do bairro há dois anos. O jornal atinge gratuitamente um bom número de pessoas. Ele cogitou a hipótese de divulgar em outro meios, mas optou pelo jornal por causa da eficiência e do custo. “Já na segunda vez que divulgamos a empresa, ficamos muito conhecidos nos bairros onde o jornal é distribuído”, comemora o empresário
Fabiana Hayeck, diretora da escola de idiomas Wizard, unidade do bairro Castelo, começou a anunciar há um ano e quatro meses, logo após a inauguração da escola. Mesmo com a publicidade nacional e regional que a franquia investe, ela optou por fazer uma divulgação específica para atingir o público da região. “Tínhamos até um cupom de desconto que vinha encartado no jornal e víamos que realmente as pessoas tomavam contato. Foi assim que percebemos que essa publicidade dá certo", ressalta
Paulo Ferreira, ex-proprietário de agência de publicidade, é cético com relação às mídias alternativas. Para ele, essas mídias são amadoras e as empresas poderiam investir em publicidades profissionais. “Mesmo sendo mais caro, as empresas têm que ter a visão de que isso é investimento”, comenta.
Faixas podem ser dor de cabeça
Faixas podem ser dor de cabeça
De acordo com o artigo 187 do Código de Posturas da capital é proibida a fixação de faixas em via pública, salvo em casos de utilidade como informações de mudanças no trânsito, campanhas de vacinação etc. Mas o que se vê nos bairros da capital são inúmeras faixas penduradas nas ruas, anunciando toda sorte de produtos e serviços. Quem infringir a lei pode pagar multa de R$ 367.
Da mesma forma, as pinturas em muros são igualmente proibidas. De qualquer maneira, essas mídias são colocadas estrategicamente em vias de grande movimento, adotando a ideia do “se você viu, milhares verão”. Segundo o professor de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Newton Paiva Marcelo Alves, isso, ao invés de ser uma solução, pode não ser tão eficiente assim. “Mesmo que muitas pessoas vejam, elas podem morar em um bairro totalmente diferente e por isso não são inseridas no contexto daquele anunciante. Além disso, há o problema de referência e credibilidade. Como saber se aquele anunciante oferece um bom serviço ou produto só por ver a pintura?” questiona.